O amor é mesmo assim... silencioso, contido, esperando o inusitado "milagre", que
alguém do outro lado, descubra do sentimento guardado, sem que este lhe seja revelado.
Na verdade, o que o amor deseja é descobrir-se amado !
Ambos estão convencidos que os uniu uma paixão súbita. É bela esta certeza, mas a incerteza é mais bela ainda.
Julgam que por não se terem encontrado antes, nada entre eles nunca ainda se passara. E que diriam as ruas, as escadas, os corredores onde se podem há muito ter cruzado?
Gostaria de lhes perguntar se não se lembram — talvez nas portas giratórias, um dia, face a face? algum “desculpe” num grande aperto de gente? uma voz de que “é engano” ao telefone? — mas sei o que respondem. Não, não se lembram.
Muito os admiraria saber que desde há muito se divertia com eles o acaso.
Ainda não completamente preparado para se transformar em destino para eles, aproximou-os e afastou-os, barrou-lhes o caminho e, abafando as gargalhadas, lá seguiu saltando ao lado deles.
Houve marcas, sinais, que importa se ilegíveis.
Haverá talvez três anos ou terça-feira passada, certa folhinha esvoaçante de um braço a outro braço. Algo que se perdeu e encontrou? Quem sabe se já uma bola nos silvados da infância?
Punhos de poeta e campainhas onde a seu tempo o toque de uma mão tocou o outro toque. As malas lado a lado no depósito. Talvez acaso até um mesmo sonho que logo o acordar desvaneceu.
Porque cada início é só continuação, e o livro das ocorrências está sempre aberto ao meio.
Amor à primeira vista (Wislawa Szymborska)
ResponderExcluirAmbos estão convencidos
que os uniu uma paixão súbita.
É bela esta certeza,
mas a incerteza é mais bela ainda.
Julgam que por não se terem encontrado antes,
nada entre eles nunca ainda se passara.
E que diriam as ruas, as escadas, os corredores
onde se podem há muito ter cruzado?
Gostaria de lhes perguntar
se não se lembram —
talvez nas portas giratórias,
um dia, face a face?
algum “desculpe” num grande aperto de gente?
uma voz de que “é engano” ao telefone?
— mas sei o que respondem.
Não, não se lembram.
Muito os admiraria
saber que desde há muito
se divertia com eles o acaso.
Ainda não completamente preparado
para se transformar em destino para eles,
aproximou-os e afastou-os,
barrou-lhes o caminho
e, abafando as gargalhadas,
lá seguiu saltando ao lado deles.
Houve marcas, sinais,
que importa se ilegíveis.
Haverá talvez três anos
ou terça-feira passada,
certa folhinha esvoaçante
de um braço a outro braço.
Algo que se perdeu e encontrou?
Quem sabe se já uma bola
nos silvados da infância?
Punhos de poeta e campainhas
onde a seu tempo o toque
de uma mão tocou o outro toque.
As malas lado a lado no depósito.
Talvez acaso até um mesmo sonho
que logo o acordar desvaneceu.
Porque cada início
é só continuação,
e o livro das ocorrências
está sempre aberto ao meio.
26 de dezembro de 2012 13:02
Prove que você não é um robô